sábado, 15 de março de 2014

Poesia com modelos vivos.

Está rolando uma corrente no Facebook na qual eu poderia entrar milhões de vezes e postar meu poema preferido (afinal, há uma coletânia deles).Resolvi compartilhar com aqui também o meu poema nº 01 :) Chama-se "O apanhador de desperdícios", de Manoel de Barros. Manoel me conquistou com sua simplicidade a partir do documentário "Só dez por cento é mentira", uma biografia "inventada" sobre o autor, que fala sobre as desimportâncias da vida. Dar valor as coisas desimportantes, então aprendi, é valorizar aquilo que mais importa e não reparamos,  é observar o céu e ver desenhos em nuvens, invadir a privacidade das joaninhas, ouvir a cor dos passarinhos, como diria o próprio poeta, ou seja, é ver a poesia a partir da função macro da sua câmera fotográfica. 

Torno as fotografias do meu quintal a ilustração do poema de Manoel e faço com que aprecie a poesia dos meus modelos vivos desimportantes.






O apanhador de desperdícios, Manoel de Barros 

"Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água, pedra, sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
 e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos,
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios"

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