Como disse um dia Mário Quintana:
Há 2 espécies de chatos: os chatos propriamente ditos e
os amigos, que são os nossos chatos prediletos.
Ao longo da vida elegi meus chatos prediletos, aqueles chatos que me azulcrinam desde os primórdios de meus dias na Terra até aqueles que ontem provaram serem essenciais ao meu cotidiano. São os chatos que falam que seu cabelo tá um lixo, que não deveria gastar tanto com comida, que você não deveria comer tanto, que deveria engordar mais, que deveria malhar e não da cara dos outros, que a unha tá torta mesmo você tendo-a lixado com uma régua. São os chatos que eu sei identificar através de um sorriso, malicioso ou não. Com quem seguro o riso quando vejo o verde no dente, e o deixo sorrir pra meio mundo só pra ter com que zoar de sua cara o resto do dia. São os meus chatos de tomar um porre, são os chatos que não te deixam tomar um porre, são os chatos que compram promoções pra tomar um porre juntos, e tem aqueles chatos que limpam o vaso depois do seu porre. Elegi os meus chatos por mostrarem verdade no olhar, por mais que mintam em palavras. São chatos com suas desculpas esfarrapadas para não ir a festa que você quer tanto ir, e se sentem mal por não terem ido, os chatos que fazem a festa sem um tostão no bolso. Meus chatos de galocha, de all star, de sneakers. São os chatos e seus chatos namorados, são os chatos que querem te casar com seu ex-namorado, são aqueles que não te deixam ser uma solteira bem resolvida. Pra ser um chato predileto pra mim, não é necessário jurar amizade eterna, tem que dar motivos cotidianos que podem ser chatos, tem de provar que sua chatice será lembrada mesmo que sua presença não seja material.Ser meu chato predileto é mostrar lealdade, é querer fazer sorrir, é perder o amigo e não perder a piada, que vai buscar a pizza e traz o troco de balinha pra que todo mundo fique feliz. Ser meu chato predileto é está inscrustado nessas pequenas pegações de pé, é o querer bem excessivo, sem demonstrar melosamente tudo isso. Ser chato está nos detalhes mal feitos no caminho que traçamos juntos, é caminhar descalço pra não ferir o calo do amigo, ser chato é ser você, é resmungar, é chorar, é, as vezes se calar. É rir em demasia, é sofrer e gritar de alegria, é ouvir lamúrias e dar conselhos toscos ou só fingir que ouve. Chato de verdade é aquele que se incomoda, que detecta seus defeitos, que joga na cara, ou que deixa você perceber o quanto tava errado e te apoia pra você colocar as coisas nos eixos. Ah! falei um monte de merda, só pra dizer que amo vocês, meus amigos chatos prediletos. Cada qual com sua particularidade, cada qual com sua pequena parcela de vida que deixaste comigo, cada qual com seu jeito de demonstrar amor. Feliz dia do amigo!
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texto de Marthinha pra dizer coisas bonitas a vocês:
ENTRE AMIGOS
de Martha Medeiros, 12 de abril de 1999
"Para que serve um amigo? Para rachar a gasolina, emprestar a prancha,
recomendar um disco, dar carona pra festa, passar cola, caminhar no
shopping, segurar a barra.
Todas as alternativas estão corretas, porém
isso não basta para guardar um amigo do lado esquerdo do peito.
Milan Kundera, escritor tcheco, escreveu em seu último livro, "A Identidade", que a amizade é indispensável para o bom funcionamento da memória e para a integridade do próprio eu. Chama os amigos de testemunhas do passado e diz que eles são nosso espelho, que através deles podemos nos olhar. Vai além: diz que toda amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos.
Verdade verdadeira. Amigos recentes custam a perceber essa aliança, não valorizam ainda o que está sendo contruído. São amizades não testadas pelo tempo, não se sabe se enfrentarão com solidez as tempestades ou se serão varridos numa chuva de verão. Veremos.
Milan Kundera, escritor tcheco, escreveu em seu último livro, "A Identidade", que a amizade é indispensável para o bom funcionamento da memória e para a integridade do próprio eu. Chama os amigos de testemunhas do passado e diz que eles são nosso espelho, que através deles podemos nos olhar. Vai além: diz que toda amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos.
Verdade verdadeira. Amigos recentes custam a perceber essa aliança, não valorizam ainda o que está sendo contruído. São amizades não testadas pelo tempo, não se sabe se enfrentarão com solidez as tempestades ou se serão varridos numa chuva de verão. Veremos.
Um amigo não racha apenas a gasolina: racha lembranças, crises de choro, experiências. Racha a culpa, racha segredos.
Um amigo não empresta apenas a prancha. Empresta o verbo, empresta o ombro, empresta o tempo, empresta o calor e a jaqueta.
Um amigo não recomenda apenas um disco. Recomenda cautela, recomenda um emprego, recomenda um país.
Um amigo não dá carona apenas pra festa. Te leva pro mundo dele, e topa conhecer o teu.
Um amigo não passa apenas cola. Passa contigo um aperto, passa junto o reveillon.
Um amigo não caminha apenas no shopping. Anda em silêncio na dor, entra contigo em campo, sai do fracasso ao teu lado.
Um amigo não segura a barra, apenas. Segura a mão, a ausência, segura uma confissão, segura o tranco, o palavrão, segura o elevador.
Um amigo não empresta apenas a prancha. Empresta o verbo, empresta o ombro, empresta o tempo, empresta o calor e a jaqueta.
Um amigo não recomenda apenas um disco. Recomenda cautela, recomenda um emprego, recomenda um país.
Um amigo não dá carona apenas pra festa. Te leva pro mundo dele, e topa conhecer o teu.
Um amigo não passa apenas cola. Passa contigo um aperto, passa junto o reveillon.
Um amigo não caminha apenas no shopping. Anda em silêncio na dor, entra contigo em campo, sai do fracasso ao teu lado.
Um amigo não segura a barra, apenas. Segura a mão, a ausência, segura uma confissão, segura o tranco, o palavrão, segura o elevador.
Duas dúzias de amigos assim ninguém tem. Se tiver um, amém."
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