quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Discurso aos novos museólogos, bibliotecários e arquivistas da UnB (formei!)

No último dia 15 foi uma data especial. Após quatro anos finalizo um ciclo maravilhoso da minha vida: a minha colação de grau em Museologia. Há alguns anos postei sobre a felicidade de ingressar na UnB e de iniciar a jornada como estudante de uma das melhores universidades do país. Digo com toda convicção que foi uma experiência incrível, em todos os aspectos possíveis. Me despeço da UnB e guardo maravilhosos momentos, expressos no discurso que fiz como oradora das turmas da Faculdade de Ciência da Informação: 

"A responsabilidade de representar três turmas nesse discurso é grande. É como criar um discurso para uma exposição, definir uma coleção para um museu, é como somos responsáveis por algo que representa a identidade e a memória de uma sociedade e de como nunca conseguiremos mostrar as coisas como realmente aconteceram, pois cada um tem uma maneira singular de ver a vida.
Faz parte do estudo dos três cursos da Faculdade de Ciência da Informação a organização e a preservação da informação, espero então cumprir com essa função nesse discurso. Como meu campo de estudo é a Museologia, que tem como uma das funções o gerenciamento de coleções, decidi tratar do que foi vivido dentro da UnB separando momentos em coleções. As coleções são geralmente formadas por elementos representativos para a história e para as pessoas. A primeira coleção que organizei foi a das emoções: a de ver o seu nome na lista de aprovados no vestibular, a raiva ao perguntarem MUSE-O-QUÊ? Como sei que ocorre também com meus colegas da Arquivo e da Biblio. O orgulho do primeiro SS, ou a decepção da reprovação. Aquele momento que você não se controla e discute com o professor ou quer bater no coleguinha que faz a pergunta no ultimo minuto de aula, fazendo com que ela se estenda por mais dez minutos (e o professor só faz a chamada no fim). Ou a sensação de aventura ao invadir salas para conseguir uma sede para o CA e sermos expulsos do local, ter o nosso espaço invadido ou quase presos. Com choros e risos as emoções foram muitas! A segunda coleção é composta pelos nossos mestres. São aqueles que nos guiaram ao longo dos anos passados, nos orientaram, foram pais e mães,ou nossos piores inimigos. É aquele professor picareta que você passou horas no matricula web tentando pegar a matéria, é o professor badalado da Faculdade, o coordenador que quebra o galho ou o que não assinou o contrato do seu estagio, é aquele professor que se torna ídolo, são aqueles, que hoje tornam-se colegas de profissão  e exemplos a serem seguidos. Aos amigos, dedico a coleção dos melhores momentos, pois são eles que deram a graça a nossa trajetória. Creio que sem nossos companheiros diários os dias nas escadas da FCI seriam muito monótonos. Aqueles loucos alternativos, os nerds participativos que perguntam demais, os calados que fazem tudo com perfeição, a galera que não faz nada mas é inteligente pra caralho, a galera que só quer saber de cerveja, aqueles que sempre dizem que “no próximo semestre vai ser diferente”, a galera MASSA! Com eles vivenciamos os melhores por-do-sois, Mendes e afins! São aqueles que compartilhamos a caminhada até a parada de ônibus, o pão de queijo do lanche e rachamos a coca no RU, o amigo carona solidária e o bolsa xerox. Foram eles que melhor entendiam o drama de fim de semestre e de montagem da grade do próximo, os que viveram três semestres em um ano na parceria. Tem também as viagens, os encontros de estudantes, congressos, seminários e afins. E que experiências! A choradeira para conseguir um ônibus, seja na direção da Faculdade ou com aquele monte de documentação pro DEA, a organização das listas infinitas de pessoas que querem viajar e quando chega a hora não vai nem a metade, mas quem vai faz valer por todos. Ou ainda aquelas viagens que resolvemos fazer por conta própria e acabamos perdidos em alto mar. Os melhores alojamentos, banhos improvisados em bar, a contagem de moedas pro dinheiro não faltar.  Os diversos amigos que se espalham pelo país (e porque não pelo mundo)!
E por ultimo a coleção do cotidiano: os tickets amarelos do RU, as caminhadas sem fim de um lado pro outro da UnB, o estágio na BCE, os ipês que coloriam os dias de mau humor por causa do calor, a saga do matricula web a meia-noite (quem nunca entrou que atire a primeira pedra), os mil e um textos xerocados e que não foram lidos metade, o busão lotado (aproveito a oportunidade para deixar um beijo pro cara que teve a iniciativa de fazer a fila para o 110) ou as noites sem dormir (seja pela preocupação com a prova do dia seguinte, com o trabalho atrasado ou o bar que se estendeu em balada). Os muitos dias felizes, de amizade, de correria e de aprendizado. E hoje esse diploma é uma das peças que entrará para uma nova coleção: a do futuro que nos espera. Não será um caminho fácil, porém sei que temos a competência de assumir as rédeas de nossos destinos e que todos os ensinamentos aqui apreendidos serão aplicados, tanto em nossa caminhada profissional, quanto pessoal. É mais que uma folha de papel é o símbolo de que tudo que vivemos nos últimos anos valeu a pena, representa uma luta, que não foi só nossa, mas de todos que sempre estiveram nos apoiando, pais, amigos e professores. O nosso diploma é a Monalisa de nossas coleções! Espero que todos tenham conseguido se encontrar em minhas palavras, assim como imagino que todos criaram um filme mental dos momentos que passaram na Universidade de Brasília e como bons profissionais da informação, irão guardar e preservar com muito zelo suas lembranças. Por fim utilizo de Rubem Alves: “quem sabe que o tempo está fugindo, descobre a beleza única do momento que nunca mais será”. Momentos como de hoje, como os que aqui trouxe, são momentos que passarão com o tempo, porém ficarão sempre guardados conosco, organizado em coleções, no grande museu que chamamos de vida."

(Foto com os queridos colegas da Museologia que compartilharam comigo desse momento lindo)

sábado, 15 de março de 2014

Poesia com modelos vivos.

Está rolando uma corrente no Facebook na qual eu poderia entrar milhões de vezes e postar meu poema preferido (afinal, há uma coletânia deles).Resolvi compartilhar com aqui também o meu poema nº 01 :) Chama-se "O apanhador de desperdícios", de Manoel de Barros. Manoel me conquistou com sua simplicidade a partir do documentário "Só dez por cento é mentira", uma biografia "inventada" sobre o autor, que fala sobre as desimportâncias da vida. Dar valor as coisas desimportantes, então aprendi, é valorizar aquilo que mais importa e não reparamos,  é observar o céu e ver desenhos em nuvens, invadir a privacidade das joaninhas, ouvir a cor dos passarinhos, como diria o próprio poeta, ou seja, é ver a poesia a partir da função macro da sua câmera fotográfica. 

Torno as fotografias do meu quintal a ilustração do poema de Manoel e faço com que aprecie a poesia dos meus modelos vivos desimportantes.






O apanhador de desperdícios, Manoel de Barros 

"Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água, pedra, sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
 e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos,
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios"

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Presentes.

"Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha e não nos deixa só
 porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós. 
Essa é a mais bela responsabilidade da vida 
e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso."

(Charles Chaplin)

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acredito que Deus colocou em cada pessoa um  presente, a ser entregue para nós no momento exato - um encontro inesperado, um colega novo ao lado, um olhar furtivo trocado. esse presente é daqueles que você carrega para todas as partes, as vezes guarda em caixas, mas é algo que você não se esquece, pois aquilo fez a diferença em algum momento para você. não acredito que as coisas durem para sempre (apesar da profissão pregar que devemos fazer de tudo para que durem), porém acredito no que elas trouxeram para nós, esse presente transpõe qualquer esquecimento,  esse presente é o amor, e ele faz toda a diferença. eu acredito no amor, no amor das pessoas que passam pela minha vida. no amor que elas deixam, mesmo que se vão... no amor que gerou outros frutos... no amor que ressecou. o acaso não existe, o destino sim. é o amor que tem que ser entregue, que tem de ser semeado, Chaplin diz bem, é uma responsabilidade que temos que tomar para nós. agradeço por cada presente desse entregue até hoje para mim. e que a troca tenha sido mútua, como há de ser.


26 de fevereiro de 2014, e meu muito obrigada por todo amor.